Não é sorte, é cuidado

"Dormiu a noite toda? Nossa, que sorte!" Mas ninguém viu as noites de estudo, as rotinas criadas com disciplina, os erros corrigidos com paciência e o esforço silencioso de uma mãe que escolheu cuidar de verdade. Neste artigo, vamos desmontar o mito da sorte na maternidade e mostrar o que realmente sustenta uma criação equilibrada: conhecimento, constância e entrega. Quer saber o que há por trás de um bebê calmo, saudável e bem-educado? Não é sorte. É cuidado.

É difícil ter filhos?

Muita gente diz que ter filhos é difícil. Mas a dificuldade, na maioria das vezes, não está na criança em si, e sim na falta de preparo, de conhecimento e de disposição para se doar de verdade à maternidade. O problema começa quando se espera que criar um filho seja algo que se resolva sozinho, quando na verdade exige estudo, esforço, paciência, disciplina e constância.

A verdade é que quando o bebê chora muito, dorme mal, não mama direito, vive com cólica, tem muitas birras ou se mostra desrespeitoso, a culpa recai sobre a mãe. “Ela não sabe educar”, “não impõe limites”, “não cuida direito do filho.” O julgamento vem rápido. Mas quando o filho dorme bem, mama com facilidade, é calmo, saudável e educado, aí a história muda. A mãe não recebe reconhecimento. A explicação é simples: “Você teve sorte.” Como se fosse obra do acaso. Como se todas as escolhas intencionais feitas por essa mãe, todo o esforço para moldar os hábitos do bebê, todo o tempo investido em pesquisa, rotina e cuidado... fossem irrelevantes. Como se fossem mágica.

Frases que revelam mais sobre quem fala do que sobre você

Durante a gestação, os “palpites” começam cedo:

“Você não vai conseguir ter parto normal, tem o quadril estreito. Seu peito é pequeno, não vai ter leite. Você não vai conseguir dormir nunca mais. Fralda de pano dá muito trabalho. Se não der fórmula, o bebê vai passar fome.”

Essas frases vêm carregadas de frustração e descrença. Muitas vezes são ditas por mulheres que, por falta de apoio, conhecimento ou coragem, não conseguiram vivenciar o que hoje julgam impossível. São transferências emocionais: “Se eu não consegui, ninguém consegue. E, se conseguir, é porque teve sorte.”

Mas a verdade é outra. Quando uma mulher: Se informa e consegue um parto natural, sem intervenções desnecessárias; Aprende a pegar corretamente o bebê e consegue amamentar com sucesso, mesmo com um peito pequeno; Constrói uma rotina de sono que funciona e proporciona noites tranquilas; Lava as fraldas de pano com constância, sem causar assaduras no bebê; Reduz ou elimina cólicas com uma alimentação equilibrada e manejo correto do choro; Não é sorte, é esforço, preparo, sacrifício consciente. É maternidade vivida com responsabilidade, mesmo quando ninguém aplaude.

Sorte é o nome que dão ao que não enxergam

Quando uma mãe colhe os frutos de sua dedicação, o mundo chama de sorte aquilo que ele não acompanhou:

As noites em claro estudando como melhorar a amamentação.

As orações silenciosas pedindo sabedoria para criar um filho melhor do que se foi.

O cansaço superado pela consciência de que tudo isso tem um propósito.

Nada disso é visível para quem olha de fora. Por isso, é mais fácil simplificar dizendo que foi “sorte”. É mais confortável pensar assim do que admitir que, com esforço e entrega, é possível viver uma maternidade mais leve, coerente e gratificante.

Cuidar dá trabalho — mas dá resultado

Ter filhos exige presença. Não física apenas, mas emocional, espiritual e intelectual. Exige estar disposta a aprender todos os dias. E a verdade é que muitas pessoas não querem esse tipo de responsabilidade. Preferem seguir no automático, repetir padrões, culpar o destino ou a genética.

Mas quem cuida com amor, verdade e intencionalidade colhe os frutos. E não, não é sorte. É fruto de decisões conscientes, muitas renúncias e uma vontade firme de fazer o certo.

Então, da próxima vez que quiser chamar de “sorte” a paz de uma casa bem cuidada, pense: talvez seja só o reflexo de um trabalho bem feito.